Páginas

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PRAJNA


Prajna esta realmente ameaçando o nosso ego e nossos queridos sistemas de crenças já que mina a nossa noção de realidade e os pontos de referência sobre os quais construímos o nosso mundo. Prajna questiona quem nós somos e o que nós percebemos. Uma vez que esta espada corta de várias maneiras, não só serve para cortar a nossa realidade de aparência sólida objetiva, mas também corta o experimentador subjetivo de tal realidade. Desta forma, é também o que nos faz ver através de nossas próprias viagens do ego e autopromoção. É preciso algum esforço para enganar a nós mesmos continuamente sobre nós mesmos. Prajna significa ser descoberto por nós mesmos e pela primeira vez olharmos todas as coisas com um olhar honesto para os jogos que jogamos. Portanto, prajna se torna ainda mais importante à medida que progredirmos no caminho, porque nossas viagens do ego apenas se tornam mais sofisticadas.
 — Extraído de  The Heart Attack Sutra: A New Commentary On The Heart Sutra, de Karl Brunnholz

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A FORÇA DA LINHAGEM


Certa vez, Jigme Gyalwa Nyuku estava praticando meditação por muitos anos em Tsa-ri com intenso ascetismo e esforço. Certa vez ele saiu de sua caverna em um dia de sol. Ele olhou na direção de Lhasa, e com uma lembrança muito forte de seu mestre raiz (Jigme Lingpa)  a linhagem dos mestres surgiu em sua mente. Ele rogou a ela com extrema devoção. Por alguns instantes, foi como se ele tivesse se tornado inconsciente. Quando ele recuperou a consciência, ele descobriu que não havia nada a ser visto ou sobre o qual meditar, pois todas as apreensões de estar em meditação haviam se dissolvido na esfera ultima.  Ele havia de fato alcançado a presença última da consciência intrínseca, livre de flutuações e delusões. Mas ele (não estava consciente de sua natureza e ele) não estava satisfeito (com o que estava experimentando). Ele pensou “Alas! Se eu não tivesse visto o sol eu estaria meditando, mas agora não há nada em que meditar. Eu tenho que ir embora para ver o Lama porque agora ele está velho e preciso de esclarecimentos sobre a minha meditação...” Ele foi ver (seu professor), Rigdzin Jigme Lingpa, e ele apresentou sua realização (meditativa) a ele. Jigme Lingpa ficou feliz e disse: Filho é isso! Você alcançou o estado da “exaustação das existências fenomênicas na natureza última”. 
Extraído de The Practice Of Dzogchen: An Anthology Of Longchen Rabjum's Writings On Dzogpa Chenpo

sábado, 1 de dezembro de 2012

SABEDORIA NAS SEIS PERFEIÇÕES


Em seu início, Mipam estudou o Caminho do Bodisatva com Patrul Rinpoche, o autor de As Palavras do meu Professor Perfeito. O ensino levou cinco dias, mas, aparentemente, isso foi o suficiente para que Mipam compreendesse plenamente as palavras e o significado deste clássico. Mais tarde, ele compôs um comentário importante no nono capítulo deste texto, o capítulo sobre Sabedoria. Este capítulo é particularmente importante porque a sabedoria é o que torna a prática de um bodisatva única: é a sabedoria através do qual a vacuidade é realizada. Assim, é a sabedoria que faz com que as práticas de um bodisatva sejam transcendentes através das perfeições de generosidade, moralidade, paciência, energia constante, concentração e sabedoria. Estas compreendem as práticas realizadas por um bodisatva para trazer todos os seres à iluminação. Entre estas seis, a sabedoria eleva as outras cinco virtudes para o status de ser "transcendente" ou sublime, porque se percebe a natureza vazia da realidade e, assim, é vista a natureza ilusória de todas as coisas.
 Extraído de Jagmon Mipham: His Life and Teachings

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CANÇÃO PARA UMA ALUNA



Milarepa, enquanto ensinava uma discípula, cantou:
   Medite sobre a natureza não nascida da mente,   Como o espaço, sem centro, sem limite;   Como o sol e a lua, brilhantes e claros;   Como uma montanha, imóvel, imperturbável;   Como o oceano, profundo, insondável.
Esta mulher praticou por algum tempo e retornou para ver Milarepa,dizendo:
   Fico feliz por meditar como o espaço,   Mas sou distraída pelas nuvens e pela neblina que aparecem lá.
   Fico feliz por meditar como o sol e a lua,   Mas sou distraída pelas estrelas e planetas que surgem deles.
   Fico feliz por meditar como uma montanha,   Mas sou distraída pelas plantas e flores que surgem.
   Fico feliz por meditar como o oceano,   Mas sou distraída pelas ondas e espuma que surgem.
   Fico feliz por meditar sobre a natureza não-nascida da mente,   Mas sou distraída pelos pensamentos e imagens que surgem dela.
   Mestre, por favor, ensine-me sobre isto.
Milarepa disse que ela teve uma boa experiência meditativa erespondeu com outra canção.
   Na meditação como o espaço,   As nuvens e a neblina são seus prazeres;   Permaneça em sua vastidão sem centro ou limite.
   Na meditação como o sol e a lua,   As estrelas e os planetas são as suas jóias;   Permaneça em seu espaço, brilhante e claro.
   Na meditação como uma montanha,   As plantas e as flores são seus ornamentos;   Permaneça em sua esfera, imóvel e imperturbável.
   Na meditação como o oceano,   As ondas e espuma são os seus movimentos;   Permaneça em sua esfera profunda e insondável.
   Na meditação sobre a natureza não-nascida da mente,   Os pensamentos e imagens são as suas meditações;   Permaneça em sua imensidão, vasta e lúcida.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

INVESTIGUE


Nós, que estamos envolvidos na prática, devemos observar a nossa própria consciência com precisão. Se for um objeto real e tangível, deve ter cor, forma e localização discernível. É inconsistente afirmar que a mente é tangível, mas não tem forma. Investigue suas qualidades tangíveis, e se você pensa não existir nenhuma, você pode concluir que não pode encontrá-la. Mas o que é que se engaja nesta atividade mental de investigação? Investigue, olhando ao redor e ao redor, buscando a mente, e determine se pode ser encontrada qualquer mente e se é existente ou inexistente, e determine a fronteira entre esses dois aspectos. A clara derrota dessa busca é necessária para a obtenção de realização da essência do Darma.
— GYATRUL RINPOCHE -  Spacious Path to Freedom 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SOFRIMENTO COMO CAMINHO



Imagine, por exemplo, tentar se livrar do desejo e apego por alguém que achamos atraente, continuando a se apegar nas suas qualidades atraentes. Todo esse esforço seria em vão. Da mesma forma, se nos concentrarmos apenas na dor do sofrimento, nunca poderemos desenvolver resistência ou capacidade de suportá-lo. Assim, como indicado nas instruções chamadas “Selando as Portas dos Sentidos”, não se feche em todos os tipos de conceitos produzidos pela mente sobre o seu sofrimento. Em vez disso, aprenda a deixar a mente tranquila em seu estado natural, trazendo a mente para casa deixando a descansar lá e deixe-a encontrar a sua própria base.
- DODRUPCHEN JIGME TEMPE NYIMA (1865-1926) -  Utilizando a Felicidade e Sofrimento como caminho para a Liberação

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DESCOBERTA


É muito importante, quando estamos seguindo um ensinamento, particularmente Dzogchen, entender o que "Dzogchen" realmente significa. Caso contrário, mesmo que passe ano após ano, sempre permanecemos no mesmo ponto.
 
Nós dependemos de nome e forma, mas estamos continuamente nos iludindo porque não correspondem ao sentido real. Um professor Dzogchen nunca pede para você aceitar ou mudar nada. Um professor de Dzogchen só pede que você observe a si mesmo para que possa descobrir sua verdadeira natureza. Se você descobrir sua verdadeira natureza, quem se beneficia é você, não seu professor. O professor tenta fazer você entender, dando ensinamentos.
 
Nós dizemos que o professor está trabalhando com o aluno para que ele ou ela entendam. Esse é o verdadeiro ensino. É assim que funciona. Então, mesmo se nós só estivermos praticando o ensinamento em um curto período de tempo, ele faz sentido. Se você ainda não descobriu a sua verdadeira natureza e potencialidade, talvez por este princípio, você pode descobrir por si mesmo um dia.
 
Embora o professor dê vários métodos de modo a ter diferentes experiências, primeiro precisamos de conhecimento, a compreensão do que significa estar em nossa verdadeira natureza. Temos de descobrir, caso contrário, não podemos entender esse estado. Este é o primeiro passo. Depois disso, temos de perceber o conhecimento de modo que se torna real, porque, embora, por vezes, a experiência é real, e pode ser algo relacionado com a nossa verdadeira natureza, ainda vivemos em um estado com as nossas visões dualistas e conceitos de sujeito e objeto, e possuem uma infinita potencialidade de carma negativo.
- NAMKHAI NORBU RINPOCHE -  Dzogchen Teachings 



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MENTE E CÉREBRO


Eles (cientistas) podem observar e provar e medir até encontrar fatos sobre a atividade cerebral, mas como eles irão saber o que a mente está experimentando enquanto fazem isso? Eles podem, por exemplo, ser capazes de dizer que há muita atividade em tal e tal região do cérebro quando alguém pensa sobre a cor vermelha. Mas como eles podem saber se a pessoa está realmente pensando nessa cor? A pessoa que está sendo testada conhece certamente a natureza da experiência. E pode chamá-la de vermelho. Mas também poderia não fazer isso. Poderia não nomear nada. E nunca saberá se mais alguém  experimenta algo do mesmo modo que ela, mesmo que outra pessoa chame a experiência pelo mesmo nome. Ela poderia também chamá-la de vermelho. Mas quem poderia saber o que foi de fato experimentado senão a pessoa que experimentou? O cientista pode dizer que o cérebro está com uma atividade como se estivesse experimentando o vermelho porque ele está agindo como sempre faz quando as pessoas passam por essa experiência. Mas quem irá saber se eles estão certos ou não? Só a pessoa que fez a experiência saberá com certeza. 
KHENPO TSULTRIM GYAMTSO RINPOCHE - Progressive Stages of Meditation on Emptiness

sábado, 22 de setembro de 2012

VISÃO DO CAMINHO DO MEIO



Desta forma chegue à convicção de que todas as aparências são sabedoria primordial como ilusões, que é auto-manifesta e sem distinções. 
O elemento crucial que está implícito aqui é que, embora todas essas aparências sejam completamente vazias, da mesma forma que no sonho, existem interações causais. Porque todas as ações têm consequências, comportamentos têm consequências. As ações em si são vazias, as consequências são vazias, mas ainda assim ocorrem. Se os fenômenos fossem intrinsecamente reais, com fronteiras absolutas, realmente presentes, eles nunca interagiriam; estariam cerrados em si próprios e nada poderia acontecer, tudo seria não-relacionado. Por interagirem entre si e gerarem padrões de causalidade, por realmente se modificarem, por esta razão, eles só podem ser vazios. Pelo fato de as aparências serem vazias, elas podem interagir entre si de forma causal. Essa é a visão do “Caminho do Meio”, evitando o niilismo e evitando o substancialismo.
– ALAN WALLACE - Comentário a Texto Raiz de S.S. Dudjom Rinpoche intitulado Iluminação da Sabedoria Primordial: Um Manual de Instruções sobre o Completamente Puro Estágio da Perfeição do Poderoso e Feroz Dorje Drolö, Subjugador de Demônios

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O DZOGCHEN BÖNPO


A sabedoria que surge espontaneamente é a base.As cinco emoções negativas são energia manifestada.Ver as emoções como equivocadas é um erro.Deixá-las estar em sua própria natureza é o método.Para encontrar o estado não dual da liberação.Superar esperança e medo é o resultado.
- TENZIN WANGYAL RINPOCHE - Extraído de Maravilhas da Mente Natural: A Essência do Dzogchen na Tradição Bön Nativa do Tibete

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ESTADO NATURAL DA MENTE



Na proporção que desenvolvemos a meditação, já não precisamos apoiar-nos em explicações intelectuais para justificar quem somos, pois a nossa auto-identidade redutora se dissipa, como o nevoeiro tocado pela luz do sol. Depois que tivermos compreendido isso, não precisamos lutar com o nosso ego e nossas emoções negativas - ou com discriminações entre o bem e o mal, o positivo e o negativo, o caminho espiritual ou a ação habitual. Dentro da experiência da meditação, a percepção espontânea surge por si mesma, e os conflitos emocionais e os problemas começam a perder seu domínio e tornam-se muito enevoados. Depois que deixamos de alimentar nossos problemas, eles desaparecem dentro da própria percepção. Durante todo esse tempo, podemos ver efetivamente que toda a natureza da mente é a nossa meditação. E, através disso, a nossa mente se torna iluminada de uma energia poderosa e preciosa, e nós vivenciamos diretamente uma compreensão indescritível e onisciente.
- TARTHANG TULKU (1934 - ) -  Extraído do livro Gestos de Equílibrio

terça-feira, 4 de setembro de 2012

APARÊNCIAS PURAS E IMPURAS



Não é possível transformar experiências impuras em puras apenas recitando um mantra a fim de mudar o fenômeno. Nem também através de substâncias especiais que possuam tais poderes, ou através de oferendas a determinados deuses que em contrapartida irão nos ajudar. Tudo isso não tem nada a ver com o Vajrayana. O que buscamos é desenvolver o entendimento que o mundo das aparências não se apresenta como confusão; é o nosso apego às coisas que nos traz essa confusão. A fim de experimentar a pureza de todas as coisas, não há mais nada a fazer senão entender que no nível relativo as coisas aparecem devido a várias condições e devido a ocorrência dependente, mas no nível absoluto elas não possuem uma existência verdadeira. Esses dois aspectos não são separados um do outro. 
Qual o significado de "aparências impuras" ou "aparências puras"? "Impuro" se refere a nossa crença que todas coisas são absolutamente reais e existem independentemente umas das outras. Crer que as coisas possuem uma existência verdadeira é uma visão extrema que não é correta porque a natureza de todas as coisas é vacuidade. Se alguém deseja reconhecer a vacuidade de todos os fenômenos não basta aceitar o que foi dito. Na verdade, seria muito difícil entender a verdadeira natureza das coisas simplesmente falando ou ouvindo sobre ela.
- JAMGON KONGTRUL III - (1954 -  1992)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O QUE QUEREMOS?



...a jornada espiritual pode ser muito complicada. Ela pode começar com grande potência, energia, intelecto, ceticismo, curiosidade, mas, pode vir a resultar em nada mais do que uma espécie de religião baseada completamente na fé cega. Esse é o principal perigo para o praticante budista. É fácil cair nessa armadilha, sem realmente nem perceber. Achamos que estamos sendo muito céticos e inquisidores. Então, de repente, encontramo-nos dentro da tradição totalmente cegos e presos em algum dogma religioso. Encontramo-nos no meio de uma grande escuridão, ainda caminhando, mas sem saber para onde estamos indo.
 
Existe uma tremenda necessidade de refletir inúmeras vezes sobre a direção do nosso caminho espiritual. Qual é a razão de estarmos aqui? O que é a motivação básica que nos trouxe a este caminho? É um interesse genuíno no despertar, na iluminação, na liberdade? Ou temos outras razões? Cada um  de nós agora então teria que lembrar do nosso propósito e motivação. Temos que voltar para as perguntas mais básicas: eu quero realmente atingir a iluminação? Estou realmente disposto a conseguir isso? Não é uma questão de como é difícil ou quanto tempo se precisa para se tornar iluminado. A questão é: será que eu realmente quero acordar deste sonho?
 
A partir da perspectiva do Mahamudra e ensinamentos Dzogchen, podemos acordar agora. Quando acordamos do nosso confuso estado de sonolência isso é a iluminação. Não há nenhuma diferença entre este momento e iluminação. A natureza de nossa mente está completamente desperta desde o início, e este estado desperto não é nada que não seja a nossa experiência comum de emoções, pensamentos e percepções.
DZOGCHEN PONLOP RINPOCHE ( 1965 - )  - www.dpr.info -  Extraído do livro Wild Awakening: The Heart of Mahamudra and Dzogchen

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CONSELHO CRUCIAL


Não investigue a raiz das coisas,
Investigue a raiz da Mente!
Quando a raiz da mente for encontrada,
Conhecerás uma coisa apenas,
ainda assim todas as outras serão liberadas.
Mas caso falhares em encontrar a raiz da Mente,
Conhecerás tudo mas não compreenderás nada.
 - GURU RINPOCHE

terça-feira, 7 de agosto de 2012

CANÇÃO DE MARPA

   Prostro-me e rogo àqueles que são cheios de compaixão!
   Contemplando as vidas dos mestres, percebe-se
   Que até mesmo desejar mais instruções é uma distração.
   Mantenha a essência do ensinamento em segurança, no seu coração.
   Muitas explicações sem a essência
   São como muitas árvores sem frutos.
   Apesar de todas as explicações serem um conhecimento,
   Elas não são a verdade absoluta.
   Conhecê-las todas não é conhecer a verdade.
   Muita elucidação não traz benefício espiritual.
   Aquilo que beneficia o coração é um tesouro sagrado.
   Se você quiser ser realmente rico, concentre-se nisto.
   O Darma são os meios hábeis para superar a mácula mental.
   Se você quiser ser seguro, concentre-se nisto.
   Uma mente que é livre do apego é o mestre do contentamento.
   Se você quiser ser um bom mestre, concentre-se nisto.
   A vida mundana causa lágrimas; abandone a preguiça.
   Uma caverna rochosa na selva era o lar de seu mestre espiritual.
   Um lugar deserto e solitário é uma morada divina.
   A mente cavalgando a mente é um cavalo incansável.
   Seu próprio corpo é um santuário e uma mansão celestial.
   A meditação não-distraída e a ação são os melhores de todos os remédios.
   Para você que tem a verdadeira meta da iluminação,
   Eu dei esta instrução sem segredos.
   Eu, minha instrução e você -
   Os três estão em sua mão, meu filho.
   Possam eles prosperar como as folhas, galhos e frutos,
   Sem apodrecer, esparramar ou murchar.
- MARPA (1012 - 1097) 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PERCEPÇÃO NUA


A própria consciência imediata é esta mesma realidade! Repousando nesta realidade, espontânea e naturalmente luminosa, como podemos dizer que não compreendemos a natureza da mente? Repousando nesta realidade, na qual não há nada acerca de que se possa meditar, como podemos dizer que, entrando em meditação, não somos bem sucedidos?
- GURU RINPOCHE -  Retirado de A Introdução à consciência pura: Liberação natural pela percepção nua, do Livro Tibetano dos Mortos.

terça-feira, 31 de julho de 2012

PRINCÍPIO DA MANDALA


Num contexto mais amplo, a mandala é um paradigma do funcionamento natural dos fenômenos. Enxames de abelhas decidem coletivamente sobre a adequação de novos lugares para colmeias. Famílias têm intrincados padrões de atividade e comunicação, com interconexão dos papéis. A única opção que resta de transformação, de acordo com o Vajrayana, é tomar nosso assento em qualquer lugar do mundo em que nos encontramos e o reconhecermos como uma mandala. Nossa vida só pode ser vista como uma mandala se incluir tudo, todas as qualidades positivas, bem como tudo o que gostaríamos de ignorar, rejeitar ou distanciar-nos. Esta mudança no paradigma de trabalho de como pensamos e de se relacionar é o poder transformador da mandala, e é a base do tantra como um poderoso método de meditação budista. Acentua o nosso comprometimento no contexto da experiência e sela as fronteiras sem nenhuma possibilidade de fuga, de modo que nos relacionamos com tudo plenamente.  
Normalmente somos muito espertos e fazemos todo o possível para escapar da experiência de sofrimento, de que o Buda falou de forma tão eloquente. O poder da prática Vajrayana vem dessa simples tecnologia de claustrofobia, na qual o praticante se compromete com a perspectiva da mandala. Quando experimentamos o nosso sofrimento diretamente, sem a diluição dos padrões habituais de fuga, o insight surge naturalmente. Nós podemos começar a experimentar o coração do nosso sofrimento, que é auto existente de sabedoria. O segredo é desistir de qualquer esperança de escapar do sofrimento e isso realmente abre a porta para a compaixão e ação hábil. Uma vez que a compreensão profunda do espaço, do vazio, da luminosidade é realizada, a mandala passa a ser uma expressão da dinâmica do mundo. Sem um ser supremo ou deus, tudo no mundo é uma emanação transparente, um jogo no espaço vazio.
- JUDITH SIMMER-BROWN -  Extraído de Dakinis Warm Breath: The Feminine Principle in Tibetan Buddhism 

sábado, 28 de julho de 2012

CONTEMPLAÇÃO DIÁRIA SOBRE A MORTE



De noite, quando você deixa as atividades do dia, você deve se empenhar numa série de meditações contemplativas, similares a essas:
 
"Tudo bem, logo estarei caindo no sono. Sobre quantas pessoas ouvi dizer que tinham ido dormir e nunca acordaram? Quando eu deitar minha cabeça no meu travesseiro, posso não levantar de novo. A morte não é tão complicada. É simplesmente uma questão de não conseguir respirar mais uma vez. Então estarei morto. Isto pode ocorrer comigo esta noite em meu sono".
 
Então, crítica e honestamente, olhe para a sua vida e pense: "Se eu morrer esta noite dormindo, o que fiz do meu dia? Que fiz com a minha vida? Fui de algum benefício ou causei algum dano?". Algumas vezes não é tão agradável ver o quão autocentrado e egoísta você tem sido, o quão focado no "eu, meu". Qual quer que tenha sido este o caso, você criou um carma que, em última análise, impele a mente numa direção difícil no momento da morte. É como a movimentação para frente. Se você põe algo em movimento,  continua a ir naquela direção. Se a sua mente tem se movido através de um curso negativo, quando você morrer ela continuará exatamente no caminho pelo qual ela tem se movido o tempo todo.
- CHAGDUD TULKU RINPOCHE (1930 - 2002) - Extraído do livro Vida e Morte no Budismo Tibetano. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

NOSSAS PROJEÇÕES



Na famosa história de Milarepa, quando ele deixou sua caverna para sair momentaneamente e então voltou, descobriu que a diaba da rocha tinha entrado em sua caverna e que tinha assumido cinco emanações extremamente assustadoras. Milarepa ficou tão impressionado ao ver estas diabas em sua caverna que ele não pôde nem mesmo entrar nela. Estava cheio de terror e começou a recitar o mantra de seu yidam o mais rápido que podia, e isto piorou a situação. As diabas ficaram maiores e maiores, e então ele começou a meditar sobre sua auto-natureza como sendo o yidam, e a situação ficou pior ainda. Então ele começou a recitar mantras irados e isto também não funcionou. Finalmente, em desespero, ele se lembrou das instruções apontadoras dadas por seu lama - de que todos os fenômenos surgem da mente e que todas as aparências são apenas a nossa projeção. Então ele entrou na consciência da natureza da vacuidade, a natureza da mente, e imediatamente as diabas se foram - desapareceram. Esta é a história muito conhecida de Milarepa eliminando a demônia da rocha de sua caverna, de uma vez por todas. 
Até realizarmos que os fenômenos são as projeções da mente, então poderemos esperar que, a qualquer lugar aonde irmos, sempre haverá demônios, espíritos e problemas. É por isto que Milarepa ensinou que, se acreditamos na existência de um espírito externo, então ele será prejudicial; é através de nossa crença de que há um espírito existente que o dano é produzido por esse espírito. Por outro lado, se entendermos que isto é apenas a exibição da mente, então o demônio será eliminado e o dano, ou circunstâncias não-condutivas, serão evitados. Realizar a natureza vazia da mente é o significado do Chöd; rompendo ou cortando completamente o conceito errôneo, estaremos livres do dano. Se não formos capazes de praticar o Chöd, então muitos obstáculos e doenças serão experienciadas, assim como desvios sobre o caminho, porque a nossa própria mente será o demônio. Se realizarmos a natureza da mente, então o demônio imediatamente se transformará no yidam e ele dará os atingimentos espirituais. Isto é totalmente dependente do reconhecimento da exibição da mente. Se não pudermos reconhecer os fenômenos como o jogo da mente, e se considerarmos os fenômenos como sendo verdadeiros em si mesmos, então os espíritos aumentarão e continuarão aumentando.
- YANGTHANG RINPOCHE

sábado, 21 de julho de 2012

INTERDEPENDÊNCIA NAS RELAÇÕES



Nosso erro é termos esse amor no início, o amor mútuo entre mãe e filho, mas gradativamente, com o passar do tempo, começar a dar cada vez menos valor e até passar a ver como algo desnecessário. Pensamos que podemos cuidar de nós mesmos e que não precisamos depender de mais ninguém. Embora nossa independência presumida seja um sonho vão, nos sentimos orgulhosos de nós mesmos, audaciosos e confiantes. Então, em vez de sentir amor pelos outros, começamos a sentir ciúme deles e tentamos prejudicá-los e explorá-los. Isso leva a todo tipo de infelicidade na sociedade e desgraça para nós como indivíduos. Podemos sentir como se não houvesse ninguém em que pudéssemos confiar e ninguém de quem pudéssemos realmente depender, e começamos a nos sentir isolados dos outros, separados e sozinhos. Contudo, essa situação é inteiramente criada por nós. Ela vai de encontro à nossa verdadeira natureza como seres humanos. É toda ela baseada em nossas experiências artificiais. 
- XIV DALAI LAMA -  Extraído do livro Mente em Conforto e Sossego -  A visão da iluminação na Grande Perfeição